Posso dizer que tive dois dos empregos mais desafiadores do mundo. Primeiro, como juiz da Lava Jato, atuando em casos de grande corrupção em um ambiente de impunidade. Figuras importantes da política e do mundo empresarial foram processadas, julgadas e presas. A pressão para que os processos não prosperassem, as dificuldades de investigação, prova e tramitação das ações foram imensas, assim como os ataques pessoais. Foi o preço a pagar para aplicar a lei frente a poderosos interesses. Em um segundo momento, como Ministro da Justiça e Segurança Pública, buscando, contra a corrente, consolidar os avanços contra a corrupção, que demandavam reformas mais profundas. A maioria da população apoia essa pauta, mas o sistema da corrupção reúne interesses de uma minoria política, encastelada na estrutura de poder, que, não raro, impõe a sua vontade para impedir mudanças e gerar retrocessos. Desde que deixei a carreira de juiz, ainda no decorrer da Lava Jato, tenho sido cobrado a escrever uma autobiografia. Após ter pedido exoneração do cargo de ministro, a demanda cresceu, inclusive para que abordasse minha passagem pelo Poder Executivo. Este livro é, em parte, uma tentativa de atender a essas solicitações.